terça-feira, 16 de março de 2010

décima sétima.

Um número que nem devia existir...

eu fiquei olhando as unhas que eu já roí e meu ombro e a alça vermelha e minhas chaves e essa sensação paranóica de que eu tô morrendo qualquer dia desses só por não me agüentar mais
não me agüento mais, meu corpo não me agüenta mais, não se agüenta mais e não agüento que todas as pessoas que eu queria que me conhecessem não me conhecem
eu não agüento não ter casa, naquele clássico tipo "lar", mesmo, e uma cabeça que pára e descansa e noites de sono reparadoras
eu nunca agüentei as coisas com que eu convivo e entendo e tenho que entender e levanto a bandeira do "parem de reclamar e entendam". Eu não tenho que entender e eu não quero e eu não tenho que querer absolutamente nada, e eu posso querer tudo que eu quiser. Tudo. e isso não faz a mínima diferença
eu não nasci com a peça que deixa as pessoas quererem as coisas
eu nasci com o inverso da peça que as pessoas usam pra sonhar
mas, vai, eu nasci com peças legais
e muito, muito irritantes
meu tipo preferido de legal e mais odiado de legalidade
e todos esses meus tipos preferidos, eu queria saber pintar pra poder brincar com eles e despejar um grande bloco de uma lista ou emaranhado numa tela com as cores que eu só vejo na minha cabeça porque não aceito que cores surreais demais existam, de fato
pintura não tem que ter corte, recorte, ordem, lei e racionalização obrigatórios, certo? A ordem existe por si só, em qualquer lugar do caos e ninguém tira a propriedade de si.
E deve ser por isso que eu não dou pra artista.

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